Lua e Flor (Oswaldo Montenegro)
Eu amava, como amava algum cantor
De qualquer clichê
De cabaré, de lua e flor
Eu sonhava como a feia na vitrine
Como carta que se assina em vão
Eu amava, como amava um sonhador
Sem saber por que
E amava ter no coração
A certeza ventilada de poesia
De que o dia não amanhece não
Eu amava como um pescador
Que se encanta mais com a rede que com o mar
Eu amava como jamais poderia
Se soubesse como te contar
Primeiro Amor (Patapio Silva)
Léo e Bia (Oswaldo Montenegro)
No centro de um planalto vazio
Como se fosse em qualquer lugar
Como se a vida fosse um perigo
Como se houvesse faca no ar
Como se fosse urgente e preciso
Como é preciso desabafar
Qualquer maneira de amar varia
E Léo e Bia souberam amar
Como se não fosse tão longe
Brasília de Belém do Pará
Como castelos nascem dos sonhos
Pra no real achar seu lugar
Como se faz com todo cuidado
A pipa que precisa voar
Cuidar de amor exige mestria
E Léo e Bia souberam amar
No Pilar (Jararaca)
Inda ontem vim de lá do Pilar
Inda ontem vim de lá do Pilar
Já to com vontade de ir por aí
Encontrei Mané Vieira no caminho de Santa Rita
Uma viola no peito e o braço que só era fita
Eta! Estrela Dalva é tão bonita!
Eta! Estrela Dalva é tão bonita!
No caminho do sertão uma onça me roncou
Fugiu-me o sangue das “veia”
E o coração palpitou
Eta! Ai, meu Deus, pra donde eu vou?
Eta! Ai, meu Deus, pra donde eu vou?
Indo eu fazer coivara comendo mel com beiju
Picou-me a surucucu, mordeu-me o pé e correu
Eta! Ai, Jesus, que me mordeu!
Eta, Ai, Jesus, que me mordeu!
Um Bilhete Pra Didi (Jorginho)
O Mesmo Coração (Oswaldo Montenegro)/Música incidental – Coração Vagabundo (Caetano Veloso)
De repente, como um pássaro duvida a luz se não cantar
Não, diversas vezes não
Não há por que negar
Não uso da razão na hora de cantar
E é mesmo o coração quem rege o meu compasso
Não, não sou tão racional como era de esperar
E a lúcida palavra que eu queria dizer
Transforma-se num sopro, em pura intuição
E por qualquer razão eu fico à mercê
Pra onde dessa vez meu coração vai me levar
Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança de um vulto feliz de mulher
Cantada em verso ou não
É por assim dizer
A musa da canção que eu nunca vou fazer
É o sopro da emoção das que eu sempre fiz
Não, diversas vezes, não
Não há porque negar
Não uso da razão na hora de cantar
E o jogo da emoção parece estar assim
Por mais inconsciência que possa parecer
Minha idade da razão hoje parece estar no fim
Meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim
Valsinha (Chico Buarque e Vinícius de Moraes)
Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto
Quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto
Pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
E aí ela se fez bonita
Como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado
Cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços
Como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça
Foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança
Que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade
Que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz
Bandolins (Oswaldo Montenegro)
Como fosse um par, que nessa valsa triste
Se desenvolvesse ao som dos bandolins
E como não e por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim seu colo
E como se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio se dançar assim
Ela teimou e enfrentou o mundo
Se rodopiando ao som dos bandolins
Como fosse um lar, seu corpo a valsa triste iluminava
E a noite caminhava assim
E como um par, o vento e a madrugada
Iluminavam a fada do meu botequim
Valsando como valsa uma criança
Que entra na roda, a noite tá no fim
E ela valsando só na madrugada
Se julgando amada ao som dos bandolins
O Condor (Oswaldo Montenegro)
Quando voa o condor com o céu por detrás
Traz na asa ao sonho com o céu por detrás
Voa condor, que a gente voa atrás
Voa atrás do sonho com o céu por detrás
Ah, que o voo do condor no sol
Trace a linha da nossa paixão
Eu quero que seja
Mostrada no meio da rua e rolando no chão
Ah, que a gente despedace em luz
Ah, que Deus seja o que quiser
Explode a cabeça
Com olho de bicho
Mas com coração de mulher
Quando voa o condor com o céu por detrás
Traz na asa ao sonho com o céu por detrás
Voa condor! A gente voa atrás
Voa atrás do sonho com o céu por detrás
Ah, se fosse como a gente quer
Ah, e se o planeta explodir
Eu quero que seja em plena manhã de domingo
E que eu possa assistir
Ah, que a miserável condição
Da raça humana procurando o céu
Levante a cabeça
E ao levantar, por encanto, escorregue seu véu
Quando voa o condor com o céu por detrás
Traz na asa ao sonho com o céu por detrás
Voa condor! A gente voa atrás
Voa atrás do sonho com o céu por detrás
Brincando Em Cima Daquilo (Oswaldo Montenegro, José Alexandre, Mongol)
Quando minha mãe sacou
Que eu brincava em cima daquilo
Ai, meu Deus
Aquilo era tudo o que pintasse
E eu pintava o sete por encomenda
Vinte mil disfarces
Vinte mil mulheres eu quero ser pra vocês
Estar com vocês
Brincando do que for aquilo que a gente combinar
Brincando na música
Na dançarina que eu sempre quis te mostrar
Em cima daquilo
Que eu achei que a gente tem de mais bonito e secreto
Pérolas e paralelamente a lama do meu quintal
Por que não?
Em cima daquilo
Que o maluco desse tempo deu pra gente brincar
É sempre a mesma história
Se mudo ou não de lugar
É sempre a mesma memória
E não há do que lembrar
Brincando em cima daquilo
No fundo eu quero mostrar
Que o que eu não vi não tem grilo
Só tem a ver, pois não há
Coração de Todo Mundo (Raimundo Costa, Oswaldo Montenegro)
Batendo pernas
Correr mundo afora
Vitrine do mundo
Lugares à mão
Ir onde seus olhos forem
Seguindo as palavras secretas do seu coração
Descer os rios da vida
Pegar avenidas, escadas
Ladeiras, metrôs
Conhecer tudo que é esquina
Nas águas das linhas estreitas de um ferry-boat
Coração de um mundo inteiro
Um abraço estrangeiro e tão familiar
Até se encontrar
Vestir estampas de Bali
As joias de Itália
E o xale das moças de Avis
Sentir no ar o perfume barato
Dos becos escuros da Velha Paris
Pegar um barco de junco
Um cesto de vime
Deixando pra sempre Xangai
Tomar os mares de Espanha
"No creio en las brujas
Pero que las hay, las hay"
Coração de um mundo inteiro
Um abraço estrangeiro e tão familiar
Até se encontrar
Aquela Coisa Toda (Mongol)
Olhe bem nos meus olhos
Olhe bem pra você
O fato é que a gente perdeu toda aquela magia
A porta dos meus quinze anos não tem mais segredo
E velha, tão velha ficou nossa fotografia
Olhe bem nos meus olhos
Olhe bem pra você
A quem é que a gente engana com a nossa loucura?
De certo que a gente perdeu a noção do limite
E atrás tem alguém que virá, que virá, que virá, que virá, que virá
Pode Ser (Oswaldo Montenegro)
Pode ser, que a gente se acostume a ficar só
Tente, só que eu duvido muito
Quando a gente fica junto o coração desfaz o nó
E bate palma pra entrar na brincadeira
E bate palma que é pra mão não ficar só
E bate palma pra entrar na brincadeira
E bate palma que é pra mão não ficar só
E bate como vai bater a vida inteira o coração
Quando a gente se separa...
Dá um nó
Sete estrelas no vitral
Sete roupas no varal
Sete sonhos...
Quando a gente se separa dá um nó
Agonia (Mongol)
Se fosse resolver
Iria te dizer
Foi minha agonia
Se eu tentasse entender
Por mais que eu me esforçasse
Eu não conseguiria
E aqui no coração
Eu sei que vou morrer
Um pouco a cada dia
E sem que se perceba
A gente se encontra
Pra uma outra folia
Eu vou pensar que é festa
Vou dançar, cantar
É minha garantia
E vou contagiar diversos corações
Com minha euforia
E a amargura e o tempo
Vão deixar meu corpo
Minha alma vazia
E sem que se perceba a gente se encontra
Pra uma outra folia
Magia (Oswaldo Montenegro
Magia é o que faz voltar
Contra quem desejou o que de mal me desejam
O olho refletindo que vem contra mim
Os magos todos louvados sejam
No dia em que olhei pro mar
E alguém revelou que lá no fundo latejam
Os corações meninos de cem querubins
Que o fundo desse lago azulejam
Dá-me Brasília a calma
Que hoje Madalena precisa em mim
Me encha de luz a alma
Que o vento da alegria responda que sim
Dá-me Brasília a calma
Que hoje Madalena precisa em mim
Me encha de luz a alma
Que o vento da alegria responda
Que o vento da alegria responda depressa
Que o vento da alegria responda depressa que sim