Terceira Festa (Oswaldo Montenegro)
Pega esse cachorro doido
Pega esse cachorro doido
Pega no caminho do ca
Pega no caminho do ca
Pega esse cachorro doido
Canção da Feira (Oswaldo Montenegro e Mongol)
Compre aqui bom e barato
Vendo coisas de valor
Meu produto é sua festa
Pague um riso adiantado
Dou-lhe um beijo se é bonita
Até vendo a prestação
Dou de graça uma risada
Teu sorriso é o meu sustento
Domingo é dia de festa
A feira já começou
A morte eu vendo à vista, moço
A vida a prestação
Meu preço é justo e correto
Minha medida é de lei
Só não lhe vendo esperança, moço
Pois isso ninguém mais tem
Severina Cooper (It’s Not Mole Não) (Accioly Neto)
Eu vou na feira comprá uma cascavé
Enchê os dedo de ané e aprendê a dançá rock
Eu vou borrá os óio todo de carvão
Amorcegá um caminhão e vou batê em Nova York
Chegando lá compro uma rôpa de cetim
Dessas que rebrilha assim que nem galinha pedrez
No fim do ano volto na grana montado
Snob e afrescalhado machucando no inglês
It´s not mole, não
Don´t have condição
Um roli roice no estacionamento
No lugar desse jumento
Que me fez passá vexame
Prá esquecê a minha vida de miséria
Vou passá as minhas féria
Lá na praia de Miami
Com uma galega de dois metro da altura
Daquelas que tira côco sem nem precisá de vara
O punk rock tá me oferecendo a chance
Mas antes que ele se canse
Eu vô é metendo a cara
E quando eu for me apresentá na discoteque
Vou mostrá pr'esses moleque
Que matuto é que é o bão
Eu que tentei aqui na terra tantos anos
Agora o americano é que vai curtir meu som
Depois que a gente vai embora pro estrangeiro
Que se amunta no dinheiro, o negócio é chalerá
Eu só volto aqui na terra pra curtir minhas estafa
Que nem diz Frank Sinatra: não vou dá colher de chá
Retrato (Oswaldo Montenegro)
Eu grito, sou vento, poeira
Sou pó, ventania
Gramado sem gente
Covarde, valente
Soldado ou tenente
Depende da hora
O que eu cismo de ser
Enfim, sou a mesma palavra
Num outro sentido
Mero menestrel das angústias urbanas
O louco Quixote
Da grande cidade, da realidade
Moinho a vencer
Oxum Olhai Por Nós (Oswaldo Montenegro)
Quando os meninos do Brasil
Olharem pro Brasil com medo do quem vem depois
Oxum, olhai por nós!
Oxum, olhai por nós!
Quando os meninos do Brasil
Olharem pro Brasil e aí soltarem sua voz
Oxum, olhai por nós!
Oxum, olhai por nós!
Tua Festa (Ulysses Machado)
Your mama say yeah, your papa say no!
Quem dera estar na tua festa, mama!
Houve essa música preta e me chama
Bophuthatswana, sorriso de fada
Tua bunda tão musculosa, lábios de almofada
Gueto de Soweto, agora um caminho
Já foi tão cruel, sujo, mau
Mas virou nosso ninho
Soninho, soninho!
Last night I had a dream about you I saw you in a run,
Me saw that noisy people kicking you under the sun
Though you were me best friend, bro, me could not save your soul, bro
Me called you 'mother fucker!', while the crowd'd began to stuck and fuck you
Your mama say yeah, your papa say no!
Even if you ask me for help I could not listened ya
You can get the kiss of life but you can depend on the people too, yo
They' ve cut your bals and suck your blood and than they play the tango
Vento Seco (Oswaldo Montenegro)
Eh, o vento seco vem
Trazer poeira seca pra cobrir o chão
Eh meu camarada
Eu sempre fui o quis ser
Bar do Balacobaco (Arnaud Rodrigues)
Bebo e não pago
No bar do Balacobaco
Foi um deus, foi um baco
Que pagou pra eu beber
Gosto do gosto
Desse tal de tira gosto
E guarde um pedaço pra mim
Que eu to disposto pra comer
E o bar do Belinho ta lotado
E um bebum bebe cana no balcão
E tá rolando um som de embolada
É Vicente e Dilzinho no salão, lá no salão
Se eu der um tombo, se eu der outro a serra vira
Cai dentro da macambira, eu corro mais do que preá
Eu dou um pulo e é tamanha ligeireza
Quebro tamborete, mesa e cadeira de balançar
Quero beber, quero pagar sem dar vexame
É batata, cebola, inhame, é macaxeira do Pará
Você precisa ir na fazenda do azeite
Onde cabra não dá leite e bode velho da mamá
Tatarubola, tataru também consola
Na bola do mundo inteiro
Na bola você não dá
Sou esquentado e não monte no meu cangote
Se montar, leva chicote e morre doido de apanhar
Taratata, eu sou irmão de Ludugero
Que abriu um cemitério com a ponta de seu punhá
Você não dá, não dá, você não vê, não viu
Quando o macaco subiu fazendo pelo sina
E vindo de Serra Talhada eu passei em Santa Rita
Me deram um laço de fita pra eu botar no meu ganzá
Repara mesmo é meu ganzá, meu ganzá lindo
E segura a bola menino e mande a cadeira pra lá
E mande lá com seu dinheiro e mande fazer um ganzá
Mas diga a ele que não faça ganzá gogo
Que eu to pondo no pescoço e pode balança
Benedito Pretinho (Domínio Público)
Olha o sapo
Tá na loca tá na toca
Tá na toca tá na loca
Tá danado pra brigar
Benedito pretinho, olha as onda do mar
Lê lê ô, olha as onda do mar
Ele vai, ele vem, ele torna a voltar
Lê lê ô, olha as onda do mar
Comedor de Calango e o Gerente da Multinacional (Mauricio Baia, Tonho Gebara e Ana Amélia Betrami)
Na minha infância eu comia calango vivo
Comia calango seco, comia calango lá
Na minha infância eu comia calango vivo
Comia calango seco, comia calango lá
Era buchudo que nem baiacu virado
Meu joelho era inchado de eu tanto caminhar
Mas no que a fome me batia era cegueira
Eu saía a fazer poeira
Pra caçar calango lá
Bicho ligeiro anda virado na cachorra
Corre mais do que uma porra
Era impossível de alcançar
Era preciso um bocado de inteligênça
As armadilha e a paciênça
Pra mode a gente almoçar
Matava o bicho com uma pedrada na cabeça
E pendurava ele na cerca
Pra carne poder secar
E a carne seca eu comia com macaxeira
E espantava a mosca bicheira
Que queria o meu jantar
Mas êita que é agora que eu me espalho
Que plantaram um festifude
Bem no meio do sertão
Larguei a calangada do balaio
E me juntei à fila armada
Pra fazer a refeição
Big Calango com alface, queijo, pão com gergelim
Suco de xiquexique e eu sem capital
Pois é que agora nem caçar a gente pode
Porque foi privatizado pela multinacional
Acontece que o gerente do franxaize
Que contrata funcionário
Ouviu falar do meu norrau
E hoje eu ando caçando calango tanto
De frilance pago um lanche com o salário semanal
Deus me dê grana pra eu poder casar com Ana
Me dê poupança pra eu comprá-lhe as aliança
Sucesso pra eu me adaptar ao progresso
Caçando calango tanto, caçando calango lá
Caçando calango tanto, caçando calango lá.
Canção da Lavoura (Oswaldo Montenegro e Mongol)
Eh, eh, eh, sua bastante pra regar a plantação
Eh, Eh bate a enxada como bate o coração
Amassa a terra, bate forte com a enxada
Põe semente, tira a terra
Põe sal grosso, que é pro santo ajudá
Televisão do Matuto (Rodrigo Sestrem) / Retrato Falado (Raíque Mackáu)
Seu dotô, num leve a mal!
Num sô mal agradecido
Mas preciso devolvê
O presente recebido
Qui só causô confusão
Essa tar tulevisão
Eita, caixote inxirido!
Meus minino, coitadinho
Já num come mais marmita
Só querem Eme Cê Donáud
A mãe deles fica aflita
Maqui xique, maqui fixe
Maqui o diacho todo, vixe!
Má qui coisa esquisita!
Tem um tar de videogâmi
Um que tem uns plei no nome
Que deixa os minino doido
Só param quando a luz some
Tem uns bicho dos inferno
Uns barulho tão muderno
De dá medo em Lubisômi!
Inté mermo minha mulé
Sempre tão respeitadera
Quis quebrá o pau cumigo
Por causo de uma besteira
Porque viu esta manhã
Um tar Jorge Foremã
Vendeno uma frigideira
A minha filha mais velha
O sinhô veja se isso pode!
Disse qui qué viajá
Quando eu nego, se sacode!
Qué ir prus Rio de Janeiro
Diz qui vai ganhá dinheiro
Com um tar um big bródi
Minha sogra, na cozinha
Cada dia inventa um prato
Só num faz tripa de bode
Num faz bucho nem faz fato
Só cumida da istrangêra
De uma lôra faladêra
E de um papagaio chato!
Um dia, eu pensei cumigo:
Pra qui toda essa agonia
Só por causo de um caixote
Que só mostra fantasia?
Resolvi sentá um pouco
Mermo achando qui era louco
Mas pra vê se entendia
E o qui eu vi me fez tremê
Seu dotô, eu nem te conto!
Foi tanta barbaridade
Qui eu quase qui fico tonto
E ói qui eu sô macho que só!
Nunca dei ponto sem nó
E nem nó fora do ponto
Vi uns homi bem vestido
Remexendo as duas mão
Dizendo qui era pastor
Mas num vi as cabra não
Apontavam lá pra cruz
Se diziam de Jesus
Mas só falavam no cão
Retrato Falado
Eu conheço aquele paraíba, eu já conheço
Esse paraíba que não larga o osso
Que banca o esperto e sempre almoça
E no final inventa uma barata na sopa
Tou na cola desse paraíba maconheiro
Esse paraíba é um que cospe grosso
Que bate perna mais noves fora
Paraíba faz as coisas tudo nas cocha
Você já cruzou com um paraíba, com certeza
Esse par é a cara desse outro
Que bate prego, que perde a hora
Todo paraíba tem um pente no bolso
Paraíba é cabra, não é gente, eu sinto cheiro
Essa gente a gente reconhece é na roupa
Que troca a perna, engole cobra
Paraíba de verdade nem tem pescoço
Avacalhai (Renato Luciano e Léo Pinheiro)
Avacalhai, brasileiros avacalhemos
Como eles avacalham de nós no Congresso e nós gostemos
Eu avacalho, tu avacalha, vós avacalhais
Eles avacalham com a cara da gente
E a gente pede mais
Avacalha!
Pode Por a Culpa em Mim (Oswaldo Montenegro)
E não finge que me ama
E que madeira ama cupim
Vê se me poupa desse drama
E vade retro, coisa ruim!
E se a coisa desandar
E se alguém te perguntar
Pode por a culpa em mim
A gente é junto e separado
Igual piscina e trampolim
Você fala acariocado
Me enganando que é latim
Mas se o medo do momento
É o global aquecimento
Pode por a culpa em mim
E se a esquerda no poder
Desandou teu Zepelim
E se o medo de perder
Azedou o teu quindim
E se o rock hoje é cafona
Se a mocinha hoje é matrona
Pode por a culpa em mim
Se você já descobriu
Publicado num pasquim
Que só mesmo no Brasil
Comandante faz motim
O sucesso é quase um crime
E a mentira é o que se imprime
Pode por a culpa em mim
E se a espada revoltada
Empunhar o espadachim
E se a água alucinada
Resolver beber o rim
E se o amor que a gente teve
Se atirou do céu sem rede
Pode por a culpa em mim
Sustenta na Palma da Mão (Oswaldo Montenegro)
Se você quer brincar, nunca peça perdão
Sustenta na palma da mão
Puxa o ar pela boca e decola do chão
Sustenta na palma da mão
Pegue a valsa de jeito e transforme em baião
Sustenta na palma da mão
Quem tiver alegria que cante o refrão
Sustenta na palma da mão
E a menina bonita girando o cabelo
Flautista maluco gritou: Essa não!
Fez um solo de arrepiar parabelo
Sustenta na palma da mão
O matuto gritou que era mais brasileiro
Que o percussionista, ele disse que não
A zabumba gritou: Ói, meu pirão primeiro!
Sustenta na palma da mão
O negão segurou o batuque no pelo
Fez da mágoa um pandeiro e expulsou com a mão
A crioula dançou e pediu pra plateia
Sustenta na palma da mão
Se você come mágoa, vomite perdão
Sustenta na palma da mão
Liga pro seu amigo e diz que ele é irmão
Sustenta na palma da mão
Deixa a tal bailarina rodar pelo chão
Sustenta na palma da mão
O mineiro maluco gritou pão de queijo
Em Belém do Pará, peguei ouro no chão
E a baiana botou berimbau no terreiro
Sustenta na palma da mão
A menina de voz colorida e certeira
Apontou pro Brasil os seus filhos, e então
Vamos todos cantar pra nossa padroeira
Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
Sustenta na palma da mão
O Bom Cabrito Berra (Oswaldo Montenegro
Perdi minha cabeça ainda moço
Fui parar assim de repente no sertão de Mato Grosso
Transformado em capitá
Cheguei lá me deu um troço de vontade de voltar
Mas aguentei ruí o osso
Pois o bom cabrito berra e não consegui berrar
Nação Primeira (Ulysses Machado)
Beijo na na
Beijo na nação pri
Beijo na nação primeira Tchucarramãe nossa!
Se Correr o Bicho Pega (Juraildes da Cruz)
Eu pensei correr de mim
Mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria
Mais pra perto eu chegava
Quando o calcanhar chegava
O dedão do pé já tinha ido
Escondendo eu me achava
E me achava escondido
Só sei que quando penso que sei
Já não sei quem sou
Já enjoei de me achar no lugar
Que aonde eu vou eu tô
Eu pensei correr de mim
Mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria
Mais pra perto eu chegava
Tô pensando em tirar férias de mim
Mas eu também quero ir
Só vou se minha sombra não for
Se ela for eu fico aqui
Um dia desses sonhando
Eu pensei: não vou me acordar
Eu vou me deixar dormindo
E levanto pra comemorá
Eu pensei correr de mim
Mas aonde eu ia eu tava
Quanto mais eu corria
Mais pra perto eu chegava
O espelho me disse
Só tem um jeito pro assunto
Não adianta querer morrer
Porque se morrer vai junto
Se correr o bicho pega
Mas se limpar o bicho some
Tem que desembaraçar
O novelo da vida do homem
Arranhão das Horas (Oswaldo Montenegro)
Como o orvalho no fogo, como o gelo na paixão
A noite derrete o mundo
Que escorreu e escapa da sua mão
Quantas chances tem a vida?
A vida é traço ou distração?
Como o orvalho no fogo, como o gelo na paixão
A traição dos profetas, o novo mundo era ilusão
A maldição dos poetas, insalubres restos da geração
Quantas chances tem a vida?
A vida é traço ou distração?
Como o orvalho no fogo, como o gelo na paixão
Tiro Cruzado (Oswaldo Montenegro)
Na hora do aperto me deixa de lado
É tiro cruzado, olha eu na fogueira!
Fala besteira, é o teu medo empenhado
E o teu pesadelo é que eu não dou bandeira
E passa rasteira, eu que tome cuidado
Senão caio morto no meio da rua
Não vai haver quem pare pra acudir
Sai do meu lado, olha essa confiança!
Quem entra na dança não pode sair
O olho no olho reflete sem erro
Quem acusa os “outro” e não sabe de si
E passa rasteira, eu que tome cuidado
Senão caio morto no meio da rua
E não vai haver quem pare pra acudir
Caso eu morresse voltava de novo
Te atazanava e morria de rir
Tranquilo Violeiro / Oração ao Rio (Oswaldo Montenegro / Oswaldo Montenegro)
Aqui fala um tranquilo violeiro
Astuto e matreiro
Perambulante pelas ruas
Da cidade ex-maravilhosa
Aqui fala um artista iniciante
Que buscou na dissonância do acorde
A expressão da melancolia
Alguém passa na rua
Eu rio alegre e abano
Da praia vejo nuvens
Parindo um aeroplano
A sombra é a mãe do fresco
O sol é todo ano
Guerrilhas morro acima
Guerrilhas cá no plano
Eu sou um andarilho
Errante, pisciano
Cidade, acha teu trilho!
Meu Rio, eu te amo
Eu nunca fui pro Bush
Nem anti-americano
E ando na Lagoa
Pra Copa, salvo engano
Tem tudo ali: mistura
Demônios e ser humano
São putas e dondocas
Meu Rio, eu te amo
Te estraçalharam os dentes
Com a fúria de algum cano
Revólver da pobreza
Descaso ou mero engano
Que os teus 40 graus
Derretam o mal insano
E que arte te proteja
Meu Rio, eu te amo
Que todo o meu cansaço
De ti é leviano
Você é mãe e filho
Meu Rio, eu te amo
Se o mar é o nosso deus
Você é o Vaticano
Com teu surfista zen
Qual monge tibetano
De costas pra você
Olhando o oceano
Eu choro e ninguém vê
Meu Rio, eu te amo
O Azul e o Tempo (Oswaldo Montenegro)
Nada pra se acreditar
Mas o tempo não manchou o azul
Nada pra se acreditar
Mas o vento baila o mar azul
Nada pra se acreditar
Mas tá tudo azul
Nada pra se acreditar
Mas a fé tingiu o azul de anil
Nada pra se acreditar
Mas os santos rezam pro Brasil
Nada pra se acreditar
Mas você já viu
Tudo que vai rebrilhar
Tudo que vai renascer
Tudo que vai nos salvar
Sem que a gente espere
Canta pra comemorar
Grita para amanhecer
Solta o choro da alegria
Que a paz adere
Pra se acreditar
Que o tempo não manchou o azul
Pra se acreditar
Que o vento baila o mar azul
Pra se acreditar
Que tá tudo azul